quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Resenha: Milagrário Pessoal – José Eduardo Agualusa


Milagrário Pessoal – José Eduardo Agualusa
Editora Língua Geral – Coleção Ponta de Lança, 2010.

Percebi recentemente que os livros que li nos últimos meses são de escritores que não conhecia. Muito se deve aos blogs e canais literários que acompanho (fiz um post sobre eles aqui). Outro tanto se deve a uma vontade minha de inovar minhas leituras. Este livro, especificamente, foi uma sugestão involuntária da Juliana Gervason que falou sobre ele em seu canal e me deixou curiosa para ler. Na verdade, fiquei curiosa para saber mais sobre o autor também.

José Eduardo Agualusa é um escritor angolano com uma série de livros publicados. Antes de assistir a canais literários, sequer tinha ouvido falar dele – ao contrário do que aconteceu com Mia Couto, como disse em minha resenha anterior. Uma pena, pois gostaria de tê-lo conhecido antes, assim já teria lido mais de seus trabalhos. Decidi iniciar minha entrada em seu universo literário por um livro que senti que dialogaria muito comigo, cujo título é Milagrário Pessoal.

Milagrário Pessoal conta a história de Iara, uma jovem linguista portuguesa que tem como ofício a catalogação de neologismos. A história tem início quando Iara descobre que uma série de novas palavras, todas elas tão necessárias que parecia impossível que elas não existissem anteriormente, estão sendo inseridas na língua – e que isso pode afetá-la profundamente. A linguista, então, passa a contar com o auxílio de um professor angolano, anarquista e de passado sombrio, para descobrir quem ou o quê iniciou as modificações na língua portuguesa.

Só por se tratar da história de uma linguista, o livro já havia me conquistado. Como estudante de Letras, tenho fascínio por línguas e um livro que possui referências à História da Língua Portuguesa é apelativo demais. Por ser uma pechincheira de mão cheia, fui procurar o livro na Estante Virtual. Encontrei-o por um ótimo preço e qualidade excelente; o livro chegou como novo. Fiquei ainda mais feliz por ser da Editora Língua Geral, editora mais que elogiada pela Juliana Gervason e pela Denise Mercedes. Desanimei-me porque a edição foi revisada segundo o chamado Novo Acordo Ortográfico. Não tive contato com outras edições, logo, não sei o que mudou, entretanto, as construções sintáticas são curiosas de observar, com ou sem alterações ortográficas (embora eu preferisse sem). Também são curiosas as aberturas de capítulo: há uma espécie de resumo do capítulo antes dele começar. Achei genial, pois dá um gostinho especial para a leitura.

Quanto à edição, só posso parabenizar a Língua Geral pelo excelente cuidado com seus livros. Encadernação com cadernos costurados, com uso de papeis de boa qualidade – tanto no miolo quanto na capa – e bom projeto gráfico. Algumas editoras poderiam aprender com esse exemplo e cuidar melhor de suas edições, mesmo e principalmente das edições de bolso ou “populares”.

Só uma coisa me incomodou no livro: não gostei do final. Não darei spoilers, pois acho isso uma maldade sem tamanho, mas senti que a narrativa perdeu o fôlego no final. Também não gostei das partes mais voltadas para o romance, pois as achei forçadas demais. São elementos que, infelizmente, tiram o título de livro excelente, mas Milagrário Pessoal é um ótimo livro. Recomendo a todos.

Um trecho do livro que me encantou foi quando Iara e o professor conversam e este propõe a escolha das suas dez palavras preferidas. Nessa escolha é a sonoridade da palavra que tem maior relevância, não necessariamente seu significado. Segue um trecho:


Assim como criamos as línguas, também as línguas nos criam a nós. Mesmo que não o façamos de forma deliberada, todos tendemos a selecionar palavras que utilizamos com maior frequência, e esse uso forma-nos ou deforma-nos, no corpo e no espírito.


Tentei listar minhas palavras preferidas, mas confesso que achei o exercício complexo por demais. São tantas palavras maravilhosas!




                        Alfarrabista                                                  Murmúrio
Laranja                                             Enrubescer                                                  Felino
                        Sinestesia                                                    Introspecção
Empatia                                           Questionamento                                          Coruja                

                                                   

Quais seriam as suas dez palavras preferidas?


6 comentários:

  1. “Assim como criamos as línguas, também as línguas nos criam a nós. Mesmo que não o façamos de forma deliberada, todos tendemos a selecionar palavras que utilizamos com maior frequência, e esse uso forma-nos ou deforma-nos, no corpo e no espírito.”...

    Nossa, como isso é para se pensar. Fico imaginando que tipo de pessoa as palavras que eu uso me tornam... (e eu SEI o que você me diria hahaha)

    Mas apesar da minha pouco saudável predileção por palavrões, não são eles minhas palavras favoritas.

    Escolhendo pelo som... gosto destas:


    Fava Vento Chuva Sabor Aroma Toque

    Sussurro Dança Libélula Fantasia



    Posso passar horas pensando em mais, mas vou me contentar com estas agora hahahaha.

    Gostei demais da sua resenha Mi! gosto do jeito que escreve, é envolvente e estimulante! Acho que é a minha preferida até então.

    Parabéns viu?




    beijos ♥


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    1. Adorei a sua escolha de palavras, amorinha! Todas elas são leves e dançantes ^^

      Mil beijos!

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  2. Daqui a pouco vou começar a te importunar para que escreva um livro! XD Gosto muito da maneira que escreve, é cativante!
    O livro em questão parece ser bem interessante! Se um dia passar por minhas mãos, com certeza lerei!
    Bom, vejamos... Minhas 10 palavras preferidas são:

    Seios, Universo, Augúrio, Lábios, Quimera, Hierático, Ser, Onírico, Lírio e Delírio.

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    1. Também gosto demais da palavra lábios. Sinto-me quase beijada quando a pronuncio. Tenho a mesma sensação com a palavra borboleta.

      Não sei se algum dia escreverei um livro, mas se o fizer você será um dos primeiros a saber x)

      Obrigada, como sempre, pelos comentários e volte mais vezes!

      Beijinhos!

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  3. Acabei de ler o livro. Muito delicado e bonito. Como disse a uma amiga, uma prosa-poesia. E com encanto especial por ter passagens em Pernambuco, minha terra. Ai, uma palavea linda de morrer: Pernambuco :)

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  4. Será que você pode me resumir e contar a história do livro? Sem se preocupar com spoilers. Pode me dar o tanto de spoilers que quiser, eu só quero saber a história completa pra ver se vale a pena ler o livro (não estranhe, eu sou assim).

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