A Igreja do Livro Transformador foi
idealizada pelo escritor Luiz Ruffato como uma espécie
de brincadeira. A ideia era colher depoimentos de pessoas falando
sobre leituras que transformaram suas vidas. O
uso da palavra “igreja” remete ao sentido de “união” ou
reunião de pessoas que compartilham uma mesma ideia. O intuito de
reunir diferentes testemunhos é mostrar como os livros podem mudar a
vida das pessoas e incentivar a prática de leitura.
História como leitora
Para não ficar me repetindo,
resumirei a minha história
como leitora. Quem tiver
interesse em saber mais,
respondi no final do ano passado uma tag criada pelo canal Estante do Leo falando sobre como
minha paixão por livros começou. É só conferir aqui.
Sou uma apaixonada por palavras desde
que me entendo por gente. Gostava de copiar as letras e de mexer na
estante em que meus pais guardavam os poucos livros que tinham.
Sempre os vi com livros na mão. Lembro até da capa sóbria de um
livro do Machado de Assis que minha mãe sempre mantinha por perto.
Não tive livros infantis, provavelmente porque eles já eram caros e
meus pais não tinham como bancá-los, e não recordo dos meus pais
me contando histórias, mas cresci lendo gibis da Turma da Mônica,
assistindo a TV Cultura e pegando livros emprestados na Sala de
Leitura da escola, até finalmente ter os meus próprios livros.
Livros que me transformaram
Adianto que não foi fácil selecionar
os livros que me transformaram porque acredito que toda leitura te
modifica um pouco, logo, é muito impreciso qualquer critério que
você utilize para separar as experiências em mais ou menos
relevantes. Em qualquer outro momento, seja passado ou futuro, essa
seleção poderia ser diferente. Ah, e me reservo o direito de
discordar dos títulos escolhidos poucas semanas depois de publicar
esse post.
Harry Potter e a Câmara Secreta
– J.K.Rowling.
Seria desonesta comigo mesma se não
iniciasse a lista com esse livro. Foi o primeiro da série que li
(peguei emprestado do meu primo, anos atrás) e ele foi o responsável
pela minha completa paixão e devoção à Harry Potter nos
anos seguintes. Também foi ele o responsável pelo desejo de ler
séries e de comprar livros. Foi um marco na minha (pré)
adolescência e no meu desenvolvimento como leitora.
O Vampiro Lestat – Anne Rice.
Esse livro transformou a maneira que
eu escrevo. Na época em que ele veio parar em minhas mãos eu
escrevia fanfictions (todo mundo tem seu passado
obscuro, não é?) e a narrativa da dona Anne
Rice me fez compreender melhor a estruturação de texto e a
criação de personagens. Foi o período em que escrevi com mais
liberdade. Sinto muita falta disso.
Orgulho & Preconceito –
Jane Austen.
O título aqui representa toda a
bibliografia da autora. Jane Austen
também me ajudou na construção de personagens, porém de uma forma
diversa. Compreendi que não é preciso fazer grandes descrições
físicas para criar um personagem verossímil, pois são as
descrições de sua personalidade, de suas ações e de seus
discursos que realmente o sustentarão. Também foi o primeiro livro
que reli a cada tradução que me caiu em mãos (comecei com a
terrível tradução da Martin Claret, depois fui para a do Lúcio
Cardoso na edição de capa de tecido da Abril e finalmente para a da
Celina Portocarrero para a L&PM).
Dead Poets Society –
N.H.Kleinbaum
Quando houver a Igreja do Filme
Transformador, eu com toda certeza farei um testemunho falando do
filme Sociedade dos Poetas Mortos. É daqueles filmes que eu
assisto quinhentas vezes sem enjoar nunca, porque sempre tenho uma
reflexão nova a fazer sobre ele. Amo profundamente os personagens
principais, especialmente o Todd, porque me identifico com ele a tal
ponto que dói. Infelizmente o livro, escrito com base nos roteiros
do filme, não é tão impactante quanto o filme, porém ele me
transformou porque foi o primeiro livro em inglês que li. Antes dele
eu lera apenas versões adaptadas, pois estava começando meus
estudos na língua. Senti-me vitoriosa em conseguir ler algo em
língua estrangeira, na íntegra, com apenas dois anos de estudo.
Felicidade Clandestina –
Clarice Lispector.
Foi o conto de mesmo nome que me abriu
o universo literário de Clarice
Lispector. A delicadeza de suas palavras, o constante sentir
do mundo e, claro, a paixão da personagem desse conto pelo livro
foram argumentos mais que suficientes para me arrebatar. Desde então
eu nunca mais fui a mesma. Esse livro também representa todos os
outros da autora que já tive o prazer de ler.
Clarice, – Benjamin Moser.
Livro que me despertou o interesse nas
biografias. Lembro de tê-lo lido num fôlego só, no primeiro ano da
faculdade, por mera curiosidade, e de nunca ter me emocionado tanto
com a vida de um autor. Apaixonei-me pela escritora para depois me
apaixonar por sua obra.
Passeando com o Rei dos Sonhos:
conversas com Neil Gaiman e seus colaboradores – Joseph McCabe.
Selecionei esse livro porque foi por
“culpa” dele que eu quis ler mais coisas do Neil
Gaiman, especialmente Sandman. Tanto o escritor quanto
seus colaboradores falavam com tamanho afeto da série e dos desafios
que eles enfrentaram até que Sandman se tornasse o sucesso
que é, que não havia como não sentir o desejo de ler os
quadrinhos. O livro também foi minha iniciação no universo das
Histórias em Quadrinhos, pois eu cresci como uma ávida consumidora
de mangás, então eu nada sabia desse universo colorizado de heróis
e anti-heróis.
1984 – George Orwell.
Representante de todas as distopias
que li, por ter sido o primeiro e um dos mais angustiantes. A ele
preciso acrescentar A Revolução dos Bichos, também de
George Orwell, e Admirável
Mundo Novo, de Aldous Huxley,
entre outros que também foram representativos, mas não tão
impactantes. Esses três livros foram de fato transformadores. Minha
visão de mundo mudou e meu senso crítico se tornou mais apurado por
causa deles. Fiquei chocada em notar o quão atuais eram as questões
ali apontadas. Todos deveriam ler esses livros, para que a nossa
realidade se distanciasse cada vez mais das profecias (cada vez mais
concretas e acertadas) desses autores.
No mundo dos livros – José
Mindlin.
Mais um que representa toda uma série
de livros lidos. No caso, esse trata de todos os livros que narram a
paixão pelo objeto livro. Foi por causa do senhor Mindlin e da sua
loucura mansa que eu finalmente soube que amo os livros e que
quero estar profissionalmente envolvida com eles de alguma forma.
Esse livro reacendeu a minha vontade de, no futuro, fazer
Biblioteconomia e de fazer cursos que me permitam conservar,
restaurar e aprender a mexer nos livros.
O fio das missangas – Mia
Couto.
Descobrir que há excelentes
escritores em língua portuguesa fora do eixo Brasil-Portugal foi
delicioso. Mia Couto abriu a porta para que outros escritores de
Literatura Lusófona entrassem em minha vida e se acomodassem em
minhas estantes. Adoraria ter ao menos um exemplar de cada comunidade
falante do português, embora saiba que vários países ainda não
têm uma literatura consolidada na língua portuguesa. Quero
descobrir mais dessas diferentes visões de mundo unidas por uma
língua comum (e por suas enriquecedoras diferenças).
Dom Casmurro – Machado de
Assis.
Para encerrar a lista, selecionei um
livro que representa o maravilhoso dom da releitura. A primeira vez
que li Dom Casmurro eu era imatura demais para compreender a
complexidade da narrativa. Lembro-me de ter detestado. Os anos
passaram, a faculdade e as leituras ampliaram minha capacidade como
leitora, e eis que finalmente criei coragem de reler um dos livros
mais polêmicos do senhor Joaquim Maria Machado de Assis. Foi amor à
segunda leitura. Mergulhei no texto com ânimo e saí dele com uma
visão completamente diferente da que tive em minha adolescência.
Sei que ele faz parte dos livros que nos trarão pontos de vista
diferentes a cada leitura. Indignei-me com o senhor Bento Santiago e
caí de amores por Capitu e sua força como mulher em pleno século
XIX. Escreveria uma tese sobre o livro se já não houvessem tantas
por aí. Figura com toda certeza na minha lista de livros para a
vida.
Se ficaram curiosos com o projeto,
visitem o site ou o canal do
YouTube para saber mais. Depois, curtam a fanpage no
Facebook e gravem ou escrevam seus depoimentos.
Outros depoimentos
Espanadores (aqui
e aqui)
"Ah, e me reservo o direito de discordar dos títulos escolhidos poucas semanas depois de publicar esse post."
ResponderExcluirAdorei essa parte!!! Eu sempre me arrependo quando tenho de escolher alguma coisa. Passa um tempo e eu penso que poderia ter feito outra escolha... ahaahaha
Sobre livros então nem se fala. Tem tanto coisa que eu ainda não li que esse depoimento é totalmente sincrônico.
(lendo e comentando parte 1)
Raphael, que deliciosos os seus comentários!
ExcluirEu também mudo de ideia muito rápido quando se trata de listar favoritos. Já li tantos livros bons que me sinto injusta em escolher apenas alguns.
1984 e todas as distopias lidas em 2012 não poderiam ficar fora da minha lista. Tomei um choque de realidade ao me deparar com futuros tão irreais e tão plausíveis. Queria mais!
Preciso de tempo nessa vida pra ler tudo que o Mia Couto já escreveu, inclusive os fragmentos que ele deve ter em algum arquivo de computador ou em alguma gaveta por aí. É o escritor com a alma mais sensível que já tive o prazer de ler.
Mil beijos, irmaozão!
Que lista, hein? Você falou até de filme transformador! "Sociedade dos Poetas Mortos" é clássico!
ResponderExcluirE me lembrou dos distópicos (meu 1o foi "A revolução dos bichos"; depois veio "Admirável mundo novo"; ainda falta o "1984"). E Mia Couto. Sempre citado e ainda não tive a chance de ler nada dele. Mas vou chegar lá...
bjo
Michelle, a "Sociedade dos Poetas Mortos" é O filme da minha vida. Muita gente ri da minha cara quando falo isso, afinal há filmes muito mais expressivos por aí, mas foi esse filme meio paradinho e aparentemente banal que me transformou. O amo com todas as forças <3
ExcluirSe puder, leia 1984. Mas mergulhe nele duma vez, pra conseguir sair dele o mais inteira possível. Lê-lo aos picados é exercício de tortura psicológica.
E depois leia Mia Couto pra acalentar sua alma. O homem é uma delícia! Na resenha que fiz sobre "O fio das missangas" eu postei um dos contos dele. Leia. Você adorará!
Mil beijos e obrigada pela visita!
Só de ver o título do 1984 sinto arrepios. Assim como vc tenho medo de caminharmos para esse lado. Talvez por saber que ainda é possível que o mundo caminhe para o que Orwell escreve, é que eu tenha tanto medo daquelas palavras.
ResponderExcluirEstou cada vez mais fascinado com a literatura africana de língua portuguesa. Quero muito caminhar para as outras literaturas africanas.
ResponderExcluirMia Couto é mais que maravilhoso. Estou lendo Se Obama fosse africano e arrisco dizer que as conferências dele são tão ou mais legais que os romances.
Que listona !! Ahh que lindo Orgulho e Preconceito aí também coloquei na minha, Jane Austen foi a responsável por me fazer adentrar no mundo dos clássicos que hoje em dia é um dos meus tipos de livros favoritos! E Mia Couto é amor né?!!!
ResponderExcluiradorei seu "testemunho"
bjos
Ounnn, Melissa! Também adorei o seu! <3
ExcluirMia Couto é muito amor!
O&P é daqueles livros pra vida, sabe? Bateu uma tristeza, é só ler um pouquinho e o ânimo volta.
Beijinhos!
Camila, adorei conhecer os seus livros transformadores! Vários livros que quero ler e alguns que não conhecia, como o do Midlin, vou assistir o vídeo :) e o do Joseph McCabe!
ResponderExcluirDom Casmurro me encantou na releitura... No ensino médio precisei ler uma parte, acabei não finalizando e lembro de ter odiado! Ano passado, li e PUXA, AMEI! AMEI!!! Não sei o por quê de não ter colocado-o em minha lista :( Ele e Orgulho e Preconceito entraram para a lista de livros que quero reler anualmente.
Eu não lembrava a história do conto Felicidade Clandestina, esse bimestre na faculdade estamos lendo esse livro da Clarice, então na sexta peguei o livro e puxa, fiquei até com vergonha por ter esquecido de um conto que adorei quando o li há alguns anos :)
Camila, penso em cursar Biblioteconomia também, meu sonho é trabalhar entre os livros, se chegar a trabalhar numa livraria já em sentirei realizada, mas... após concluir essa graduação que amo, vou seguir meu coração que sempre quis estudar "Biblio" :)
Adorei seu testemunho :D
Beigos,
Maura - Blog da /mauraparvatis.
O Mindlin era um cara muito legal, pelo jeito. Adoraria tê-lo conhecido, mas infelizmente ele se foi antes que a minha paixão por livros eclodisse.
ExcluirDom Casmurro é o livro pra reler e reler. Não o acho bacana de ser trabalhado com adolescentes, a não ser que haja um preparo efetivo pra leitura, coisa que nunca ocorre. Cada livro tem sua época.
Se não fosse por Felicidade Clandestina, eu jamais leria Clarice. Tentei ler A Legião Estrangeira quando adolescente e detestei. Não conseguia entender o que essa mulher me dizia. Ainda hoje não entendo, mas eu sinto melhor o que ela diz.
Bora estudar Biblioteconomia juntas, então? x)Seria sensacional!
Beijoooos e obrigada pelo carinho!
Que difícil escolher os livros transformadores, não é?
ResponderExcluirDe fato, grande parte dos livros, dependendo da nossa abertura no período, tem sua cota de transformador.
"O Vampiro Lestat" é um que colocaria na minha lista também :D
Não imaginei que pudesse aparecer em outra lista.
Me instiguei mais pra ler "Clarice," :)
Agora Mia Couto é um autor que nunca li mas só de ouvir os comentários apaixonados sobre ele sinto que vou gostar ;)
Abraços,
Thays